No dia 23 de Janeiro de 2003 foi sancionada a Lei de nº. 10.639, que inclui obrigatoriedade no currículo do ensino fundamental “História e Cultura Afro”.
A primeira pergunta que me vem é: será que a educação, ou os próprios Professores de história tem preparo para levar à sala de aula, com coerência, a cultura afro? – tendo em vista que terão que desconstruir uma série de fatores que ainda resistem ao tempo, como por exemplo, o preconceito – será que estão preparados para discutir essa delicada questão em sala de aula? - Ainda me pergunto – Será que a consciência é o bastante? Pois eu não me canso de ver e ouvir casos e mais casos de discriminação étnica, de gênero, aos portadores de necessidades especiais e etc etc...
Estamos há mais de 300 anos do esquartejamento de Zumbi, vai fazer 40 anos que Luther King foi assassinado. Nesses últimos anos eu tenho presenciado em Joinville uma série de situações de preconceito, que me deixam pouco esperançoso quanto ao humanismo nos próximos anos ou décadas.
Estou questionando a falta de investimento na Educação e o descaso no treinamento para atualização curricular de professores que estão há mais de 20 anos lecionando. Existem casos, como de São Paulo, que 25% dos educadores são portadores de depressão, e no Brasil há um déficit na parte de contratação desses, são poucos professores para uma leva imensa de educandos que com o passar dos anos só vem aumentando.
Se observarmos que a única esperança de um país menos miserável, com baixos índices de violência, e mais humano, é ter, ao menos, uma educação democrática e coerente em relação à consciência social e ambiental, estamos longe de termos algum resultado. È fácil sancionar leis, ter PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), Propostas Curriculares estaduais e LDB (Lei de Diretrizes e Bases) utópicas, pois não passam de papéis que auxiliam na escrita de PPP’s que ficam arquivados em gavetas sem qualquer utilidade, pois não temos uma prática educacional dentro desses moldes, muito menos motivação para isso.
Em Joinville, uma cidade que ainda é ostentada como “germânica”, uma realidade aquém do que vivemos, vem sofrendo mutações culturais e o que vemos no máximo, é uma educação que prepara para o mercado de trabalho, por ser uma cidade essencialmente industrial. Órgãos como ACIJ, AJORPEME, CDL e outras, ditam o que vai ou não acontecer, todos submissos aos grandes empresários de famílias fundadoras da cidade que não estão preocupados em construir um indivíduo consciente e agente da própria história, poderiam ser chamados de “ditadores simbólicos”, pois não estão visíveis à população alienada ao trabalho e a ordem.
A história que ainda é contada com aquele “romantismo tradicional”, cidade das flores, dos príncipes e das bicicletas, não mudou nada nesses últimos 40 anos, e para ajudar, temos uma mídia conivente, que ainda alimenta esse ambiente, e apóia políticos corruptos.
Desde 1960, Joinville vem recebendo milhares de migrantes de todos os lugares do Brasil, a diferença é que quando vêm do interior do Paraná, são marginalizados e postos às beiras de manguezais, quando não expulsos pelos secretários de habitação como aconteceram várias vezes.
A maior indignação é que a população nascida em Joinville acaba reproduzindo e estigmatizando-os como bandidos e invasores, com a grande ajuda das mídias locais. È perfeito para professores também entrarem na onda discriminatória e se negarem muitas vezes à lecionar em locais como Jardim Paraíso por exemplo, pois é lá que existe o maior índice de criminalidade. O mesmo discurso acaba sendo reproduzido e praticado pelo poder público, o estado em vez de ajudar a desconstruir esse estigma, faz da punição a única solução para essas pessoas.
Joinville, cidade que na semana da consciência negra, os próprios negros que nela residem e nasceram não sabem da programação que o Instituto Afro Brasileiro preparou, que nem é lá aquela coisa, sabemos das dificuldades de expressar sobre a cultura afro nessa cidade, e que a alienação perpassa todas as cores.
Quando falamos de cultura afro, falamos de construção social, a capoeira por exemplo, que tem toda uma simbologia por trás, também tem elementos que contribuem para uma sociedade mais justa, pois foi uma maneira de educar e manter as tradições que os negros traziam de suas etnias na África. A compreensão de rituais e tradições nos faz diferentes e não superiores ou inferiores, a compreensão é um estímulo para o respeito à diversidade cultural e o humanismo que nos falta, diante desta herança eurocêntrica que carregamos desde nossas mais tenras gerações.
A educação é a única chance que o ser humano tem de se auto conhecer e respeitar as diferenças culturais.
Educação não tem preço. Tem muito valor. (Gramsci)
sem citações-sem referências-sem indicações.